quinta-feira, 3 de julho de 2014

A TORRE: a inevitável (des)construção do Ego


Torres sabemos serem construções elevadas, verticais, fálicas, que visam proporcionar um distanciamento do chão e uma proximidade maior com os céus. Sempre verdadeiras demonstrações da tecnologia, coragem, arrojo e ciência de cada época da evolução humana. Essas construções permeiam a história da humanidade e as encontramos em todas as culturas e em todos os lugares do planeta.
Foram, e ainda são, observatórios astronômicos. Serviram para manter as chamas, ou luzes, que guiavam e ainda guiam a lugar seguro, os barcos e seus tripulantes quando as noites eram tão escuras que não lhes permitiam seguir as estrelas. Foram construídas para proteção e ataque, possibilitando enxergar ao longe o acampamento inimigo e suas manobras, bem como distanciar-se do alcance de suas armas, mas surpreendendo-o com ataques aéreos. Foram prisões, celeiros e cofres inexpugnáveis. Abrigaram Rapunzéis de todas as eras das tentações da carne, nem sempre com sucesso, dependendo do comprimento de suas tranças e da intensidade de seus desejos... Foram alvos especialmente escolhidos para abomináveis ataques terroristas, pois representam o tamanho do poderio e do orgulho de uma nação. Finalmente, a de Babel, mais personagem bíblica do que uma construção real, um exemplo de como a pretensão do homem em vir a equiparar-se em "estatura" a seu deus, pode acabar em confusão e ruína pessoal.

Vivemos em torres, em nossos apartamentos aglomerados verticalmente, dividindo um mesmo espaço onde, tantas vezes, não conhecemos sequer o vizinho ao lado. É a solidão da grande cidade, a solidão coletiva vivida numa colmeia distópíca, alheios aos demais que conosco convivem.
Quando elaboramos teses e argumentos que justifiquem a necessidade da preservação da nossa intimidade, talvez estejamos confessando o enorme medo de, ao nos comparar com o outro, percebermos que não somos tudo aquilo que pensamos ser. Talvez busquemos celas onde possamos nos acreditar protegidos em nossa presumida superioridade, onde nos sentimos "reis e "rainhas" dos nossos domínios. Talvez nos isolemos cada vez mais por temermos que descubram que, apesar das aparências elaboradamente construídas, somos frágeis, sensíveis, medrosos, inseguros. Talvez...

Mas se concordarmos em ver a Torre como um abrigo temporário, um plano mais elevado, com muitos degraus e pavimentos, de onde podemos melhor avistar o horizonte que nos cerca, uma construção de grossas paredes que nos permitem ouvir nosso próprio silêncio, então estaremos nos referindo à busca da paz, através do isolamento que proporciona uma melhor reflexão sobre as virtudes que podem nos conduzir ao êxito da empreitada.
Ela pode ser vista como a capa que abriga o Eremita, protegendo-o em sua filosófica busca interior. Também pode ser uma declaração pessoal de coragem e determinação como na Força, marcando, confiante, sua envergadura e posição nesta existência. podemos vê-la como o misterioso e imaterial templo que abriga os saberes da Sacerdotisa, ou a ponte que liga os conhecimentos entre o divino e o humano, representados pelo Hierofante. Ou, quem sabe, a masmorra onde o Diabo mantém aprisionadas nas correntes do egocentrismo, suas arrogantes e ambiciosas vitimas.

Arcano 16 do tarot, a TORRE segue a carta do Diabo e precede a da Estrela, ou seja, é a consequência de todos os nossos vícios, nossos enganos, nossas dependências e erros. É a desconstrução necessária, após a dolorosa tomada de consciência, para que possamos novamente voltar a nos erguer. É o implodir daquilo que não foi construído para durar, daquilo que não tem solidez, nem embasamento, para, sobre as ruínas, podermos reerguer nossas próprias pessoas com mais sabedoria e equilíbrio.


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