“O discurso do Rei” é um filme que conta a história do Rei George VI, da Inglaterra, pai da atual Rainha Elizabeth II, em sua ascensão inesperada ao trono e o fonoaudiólogo que ajudou ao inseguro monarca readquirir sua autoconfiança.
George VI era o que chamamos de gago. "
Disfonia" é a expressão correta para definir a gagueira e outras
alterações ou disfunções da voz. Imaginem, agora, um Rei, soberano de um
Império tão vasto e espalhado pelos quatro cantos do mundo, tendo que
falar em público, sendo constantemente observado pelo povo e pela mídia,
fazer discursos, falar ao rádio (que na época era o mais popular meio
de comunicação) e não o conseguir devido às suas dificuldades oratórias.
Difícil, não é mesmo?
O personagem que é o grande propulsor dos acontecimentos dessa narrativa cinematográfica chama-se Lionel Logue, um ator australiano morando na Londres da metade do século passado e que é, meio por acaso e também pelo fato de ser um professor de oratória, requisitado para tratar da disfunção do futuro Rei.
Lionel Logue é o protótipo do PAPA, o Arcano V das cartas
do tarot. Seus métodos nada convencionais, sua personalidade ebuliente, confiante de seu conhecimento técnico e capacidade comprovados através dos resultados obtidos, fazem
desse “professor de voz” o guia, o mestre, o terapeuta que o futuro Rei
necessitava para poder superar suas maiores dificuldades.
Desde a situação inesperada, até mesmo
de sorte, em que ele é encontrado e contratado, até o clímax do filme, o
objetivo desse homem é levar o Rei a encontrar as raízes de suas
dificuldades pessoais e compreender que sua gagueira é apenas uma
maneira do corpo exteriorizar a forma tímida, incompleta, submissa e
reticente de seu verdadeiro Eu. Uma reconciliação consigo mesmo e com os
outros é a base do trabalho do terapeuta.
Lionel
Logue é uma das muitas “embalagens” onde podemos reconhecer o Arcano V: autoridade, sabedoria, conhecimento e orientação, seja nos aspectos mais materiais
da existência, ou na nossa conexão com o Divino, é o que o PAPA nos oferece. Nele encontramos o mentor, o professor, o guru, aquele que,
ao nos ensinar ou orientar, ajuda-nos a nos reconectar com os aspectos
mais espirituais ou sagrados da existência.
Observamos na maneira que o
professor/terapeuta conduz seu “tratamento” ao induzir o monarca a
lembrar-se, buscar nos seus primeiros anos de vida, no seu
relacionamento com os pais e o irmão, os motivos que possam ter
provocado sua dificuldade de fala, algo comum nos atuais consultórios dos psicanalistas. Associados a esse método, estão exercícios
mecânicos de respiração, de fortalecimento muscular, relaxamento, etc. E
podemos então ver aí muito claramente como, normalmente, esse Arcano
se manifesta, quase sempre privilegiando a meditação, a reflexão, os
aspectos éticos, morais ou filosóficos e, também, privilegiando os
rituais.
Mais importante que a cura da gagueira
era o Rei fazer as pazes com a tirania paterna, a frieza materna e a
competitividade com seu irmão. Para tanto Lionel Logue age como um
verdadeiro guia, oferecendo assistência, desconstruindo estruturas
mentais rigidamente estabelecidas e levando o Rei a encontrar um
verdadeiro sentido em sua vida. Com seus métodos não conformistas, ele
abala no jovem monarca as estruturas que o controlam, que o enrijecessem e que o impedem de
evoluir, a abraçar o seu verdadeiro destino.
Como todas as cartas do tarot, o PAPA (também chamado de Sumo Sacerdote, Alto Sacerdote, Hierofante) tem e pode apresentar-se através de
seu aspecto “sombra”: moralista ao extremo, um verdadeiro intransigente
aiatolá quando se trata de preceitos religiosos, completamente dominado
por idéias e princípios ultrapassados, alguém que se norteia, e aos
outros, através da insípida rigidez de dogmas nunca questionados.
Num aspecto mais subjetivo, o que
faltava ao Rei George VI era encontrar-se com seus próprios fantasmas,
encará-los, aceitá-los e, assim reconciliar-se com seu Guia Interior.
Seu professor de locução é um veículo que lhe desvenda possibilidades de
superar-se como homem e às quais, ele mesmo bastante titubeante e
argumentativo, acaba por agarrar-se como à uma bóia em meio ao oceano.
Em resumo, seja na figura de um
fonoaudiólogo, de um mestre de lutas marciais, de um personal trainer, de um guia espiritual, de
um terapeuta, um especialista em qualquer área ou de um eminente e dedicado educador, a carta do PAPA numa tiragem de tarot é
sempre uma sugestão para que o LOUCO (Arcano 0) busque uma orientação especializada, confiável e necessária para a situação que o incomoda. Uma das mensagens do Arcano V é a de que não devemos ser teimosos ( o que é diferente
de persistentes) e confiarmos que o Universo nos guiará na direção mais
adequada ao momento de vida em que nos encontramos.
FONTE: Este texto foi anteriormente publicado (com pequenas alterações) em HIEROPHANT MAGAZINE
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