segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Dez de Paus


Às vezes somos acometidos por uma síndrome que eu chamo de "deixa que eu faço". Faz parte de um certo complexo de "mais competente que eu, ninguém". E esse é quase sempre o primeiro sintoma de um muito provável final não muito feliz.
Sobrecarregar-se de trabalho, de obrigações, de compromissos, no intuito de mostrar-se altamente capaz, ou onipresente, acaba sendo um distúrbio compensatório de uma série de insatisfações, inclusive consigo mesmo. Uma tentativa de provar-se maior, melhor, mais competente do que os demais. Um grito de socorro pedindo por admiração, reconhecimento, elogios e o aplausos.
Claro que há ocasiões que não buscamos essa sobrecarga de afazeres e que as mesmas nos são impostas por razões e situações as mais diversas. Ou é um colega de trabalho que adoece ou sai em férias, ou porque o motorista não pode vir e temos que levar e buscar as crianças na escola, fazer compras no supermercado, pagar contas e fazer saques e depósitos no banco etc, tudo num mesmo dia, além, é claro, das nossas obrigações normais, profissionais, ou então porque é período de festas natalinas e a loja em que trabalhamos está "bombando" com clientes, pedidos, vendas, reposição de mercadorias, horários ampliados, etc.
O 10 DE PAUS é a carta que simboliza, com muita frequência, a estafa que sentimos ao final de um ciclo em que tivemos que nos multiplicar em muitos para dar conta dos afazeres. Há, sim, a satisfação do dever cumprido, do trabalho realizado, mas acompanhada de um esgotamento físico e mental.
Existe sim, a possibilidade de estarmos satisfeitos com o resultado do nosso empenho redobrado na execução das tarefas, e nas recompensas em forma de compensações e elogios pela nossa capacidade, mas... a que preço?

Naturalmente há pessoas mais ativas, mais dinâmicas, mais determinadas que outras. E também pessoas que podem ser chamadas de "workaholics", cuja vida pessoal praticamente inexiste e que se realizam (ou acreditam se realizar) única e exclusivamente através do trabalho. Há também aqueles que consideram que o lazer e o descanso, os momentos dedicados a si mesmo, a relaxar, são desperdícios. Todas elas, em comum, conscientes ou não, podem acabar sofrendo de alguns distúrbios ocasionados pelo excesso de atividades e responsabilidades.
Ser eficiente, competente e responsável não significa abrir mão do conforto e bem estar, da tranquilidade e do tempo a ser dedicado ao chamado "ócio criativo". Nem é motivo para compensar frustrações de origens diversas, punindo-se com algum tipo de sacrifício.
Portanto, quando o 10 DE PAUS surge numa tiragem de tarot, ele pode estar emitindo um sinal de alerta para que repensemos o quanto nos esgotamos e estamos esquecidos de encontrar prazer nas nossas obrigações, nos nossos afazeres. É hora de lembrar, com sincera modéstia, que ninguém é perfeito, nem insubstituível e que competência e qualidade não são exatamente sinônimos de excesso.


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