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sábado, 5 de abril de 2014

JUSTIÇA: Arcano 8 do Tarot



O que é que o homem sentado em frente aos seus investigadores tem a dizer ou a esconder?

Qual é a história desse personagem e por que ele se encontra nessa situação? O que querem saber dele as frias, calculistas, “científicas” figuras que o analisam em minúcias? E o que estará escrito nas folhas do processo dos que o avaliam?

O homem, pela imagem refletida nos espelhos dos microscópios, tem o rosto tenso, nervoso, de quem teme o resultado da sua avaliação. Seus julgadores, por sua vez, tem o olhar impessoal, frio, atento, investigativo, de quem considera unicamente os fatos, de forma analítica, despidos de qualquer paixão ou outro interesse pelo ser humano à sua frente. Aliás, nem mesmo nisso ele se parecem pois seus corpos estão transformados em instrumentos de pesquisa, ampliando os detalhes sob possantes conjuntos de lentes.

Encontramos semelhanças no olhar abstraído dos 3 julgadores com o da figura da JUSTIÇA do tarot. É um olhar que parece não estar concentrado no que se vê, mas ultrapassa a camada mais evidente da realidade, em busca da essência do personagem ou do fato. Pois a Justiça não deve ater-se às aparências, pois as sabemos enganosas, e sim utilizar do seu instrumental (a espada, no caso da carta do tarot, ou as lentes de aumento, no caso da imagem acima) para obter respostas que não permitam equívocos, evasivas, subentendidos, ou mesmo, desculpas.

Imparcialidade tanto no processo investigativo quanto no julgamento é o que essa espada em riste, que a mulher da carta do tarot segura, significa. Ela oferece a mesma condição de análise, o mesmo critério e extensão de julgamento, o mesmo tipo de punição em ambos os lados da lâmina. Não beneficia ou privilegia a nada ou ninguém. Não tem opinião própria, pois baseia-se em fatos, em evidências, em medidas e critérios criados pela sociedade como um todo, a cada época, para regular o convívio social.

Todos os aspectos relacionados à questão são beneficiados com a mesma imparcialidade, representada pelos pratos nivelados da balança, ou, no caso da ilustração acima, pelo número ímpar de “juízes”, todos com as mesmas características e semelhanças. Essa maneira de “ver” a todos sob a mesma ótica, beneficiando-se das mesmas condições, é traduzido pela imagem da JUSTIÇA “cega”, com os olhos vendados, indiferente às diferenças naturais dos seres humanos. Todos são iguais perante a lei, é uma afirmação que justifica a venda sobre os olhos, eliminando a complacência do olhar apaixonado e permitindo que apenas a razão pura prevaleça.

JUSTIÇA é uma virtude e um ideal, mas esses são critérios que sofres alterações constantemente, acompanhando a evolução dos seres que habitam este planeta. Se a idéia do que é justo é algo divino, as leis que a descrevem, regulam e sacramentalizam são criadas por seres em evolução e, portanto, passiveis de cometerem constrangedores enganos em seu nome.

Ainda que esse Arcano Maior possa representar assuntos relacionados com a Justiça dos homens (ações, processos, juízes, advogados, promotores, audiências, causas, pareceres, documentos, etc), ela fala diretamente ao padrão ético e moral de cada indivíduo. É sobre como analisamos, investigamos, tiramos conclusões e aplicamos julgamentos nos fatos e nas pessoas que permeiam nosso dia a dia que essa carta de nº 10 do tarot se relaciona. O quanto somos, ou não, tendenciosos, irresponsáveis, prepotentes, relapsos, venais, cruéis, capazes, justos, rigorosos, sérios, descomprometidos ou éticos ao avaliarmos as nossas ações e, naturalmente, as alheias.

Quando olhamos a imagem do homem sentado, quase acuado, ansiedade estampada no rosto e na postura, frente aos seus inquisidores, também nos leva a pensar que estamos constantemente sendo avaliados em nossa conduta e desempenho. Seja no trabalho, no âmbito familiar, pelas nossas posições políticas, filosóficas ou religiosas, pela nossa conta bancária, pelos nossos talentos ou a falta de alguns deles, onde moramos, como nos vestimos e comportamos, o que ou quem frequentamos e, até mesmo, pela nossa aparência física, há sempre algum tipo de julgamento sendo realizado.

Se a perfeita idéia de Justiça é tão somente um ideal, que possamos dele nos utilizar de forma precisa para que todos possamos viver dignamente, respeitando diferenças e, assim, nunca incorrermos no triste ato de desequilibrar os pratos da balança e, com isso, a harmonia no Universo.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Arcano do Dia: A FORÇA



A FORÇA, Arcano XI (ou VIII, como preferem alguns) do tarot, é a carta da Coragem ou, como diziam os mais antigos, da Fortitude.
Quando pensamos sobre virtudes, ou seja, aqueles atributos fundamentais que nos dignificam como seres humanos e que se contrapõem aos vícios, entre as 4 virtudes chamadas Cardinais (orientadoras) e que polarizam todas as demais qualidades humanas, está a Fortaleza (ou Fortitude). E o que exatamente significa, que espécie de qualidade essa virtude representa?

Desde os primeiros proto-tarots conhecidos, aqueles baralhos com um número muito superior às 78 cartas do tarot como o conhecemos e usamos, encontramos essa figura. Apoiando uma coluna que tomba, ou próxima a uma fera (leão), ela traz a figura de uma elegante mulher, de traços delicados, expressão tranquila, vestida com trajes clássicos e leves, muitas vezes com uma tiara de flores nos cabelos, permitindo ao observador formar a sua própria ideia a respeito dessa virtude.
"Eu tenho a Força!", frase/bordão celebrizada pelo personagem "He-Man" nos quadrinhos e desenhos animados, deveria ser o mantra a ser recitado por todos aqueles que meditam contemplando a carta da FORÇA, ou mesmo por aqueles para quem ela surge numa tiragem de tarot.
Coragem, atitude, autocontrole, domínio, acreditar em si mesmo, ter fé num ideal são algumas qualidades dessa virtude e dessa carta. A FORÇA é aquela característica que observamos em alguma (poucas, infelizmente...) pessoas de não perderem nem o controle de si mesmas, nem da situação, mesmo quando o caos se instala em suas vidas ou ao seu redor.

Representa um equilíbrio conseguido através de um grande esforço. Por isso mesmo a figura feminina que simboliza essa virtude é sempre aparentemente frágil mas forte e corajosa o suficiente para impedir a queda de uma coluna de pedras ou que um leão a ataque. Não é o equilíbrio proposto, por exemplo, pela TEMPERANÇA (Arcano XIV) que é mais sutil, mais espiritual; nem aquele proposto pela carta da JUSTIÇA (Arcano VIII), que é cerebral, racional, frio. Na FORÇA somos impelidos a nos superar em nossos temores e fraquezas humanas. Somos convidados a controlar os nossos instintos, a dominar os nossos impulsos mais primitivos.

Quando essa virtude está presente em nossas vidas sabemos a hora de falar e de calar, de agir e de parar. Sabemos que não precisamos comer uma caixa de bombons para nos satisfazer e que 1 apenas basta. Sabemos que devemos praticar algum tipo regular de exercício (sempre sob supervisão médica) e que, para tanto, vamos ter que derrotar a Preguiça (um dos vícios). Quando vivemos a energia que essa carta representa, temos força e comprometimentos para abandonar os vícios, os maus hábitos, parar em definitivo com tudo o que prejudica nossa saúde ou discernimento, como o cigarro, o álcool, os medicamentos estimulantes ou tranquilizantes.
Além desses exemplos bastante corriqueiros, podemos dizer que estar vivendo as qualidades da FORÇA é quando defendemos, SEM "unhas e dentes", nossa maneira de pensar, nossas ideologias, nosso partido político, nosso candidato, nossa opção religiosa, nosso time predileto, nosso gosto musical. Tudo aquilo, enfim, que fazemos de forma controlada, equilibrada, sem excessos, sem exageros, sem extravagância, sem nos deixar levar pelas emoções, pelo "calor" da discussão, sem querer impor nada a ninguém, atesta o fato de nos conhecermos tão bem que, mesmo diante dos desafios mais grotescos, das agressões, das situações desequilibradas, continuamos íntegros.

Experimentar as qualidades contidas no conceito FORÇA é, antes de mais nada, ser civilizado. É saber abster-se de reações mercuriais, de atitudes descontroladas e intempestivas, de saber quando e como falar e também saber quando calar e ouvir, nunca provocar ou desafiar, de defender tudo aquilo que acredita com entusiasmo e ponderação. É saber respeitar o outro na sua totalidade. Isso implica na famosa e tão pouco praticada filosofia da "não agressão" pregada pelo líder indiano Gandhi.
A FORÇA é uma radiografia da real capacidade do indivíduo no seu viver em sociedade e na forma de interagir com o seu semelhante e tudo o mais o que compõe o seu entorno, o seu universo. É a consciência que sob estresse, sob a influência de determinadas circunstâncias, ou de medicamentos, de drogas, e mesmo por distúrbios neurológicos ou psicológicos podemos dar vazão a uma agressividade (seja ela na forma de violência física, nos abusos verbais, nos excessos sexuais, nos descontroles alimentares, na apatia, no estado depressivo, etc) primitiva, que carregamos em nossos genes desde tempos imemoriais.
Vivenciar as melhores qualidades exemplificadas na carta da FORÇA é tomar consciência dos nossos medos, temores, angústias, delírios, agressividade, vícios, dificuldades específicas, da possibilidade de sermos ofendidos, derrotados, humilhados, preteridos, vencidos e, ainda assim, mantermos o espírito elevado e a fé em nosso potencial. É ter domínio sobre a fera (os instintos mais brutos, mais primordiais) que existem desde sempre em nós, não deixando que eles dominem a nossa capacidade de raciocinar, de avaliar, de julgar, de empatizar, de perdoar, de amar. Não é, em nenhum momento, viver na passividade, no conformismo, na omissão, olhando a vida de longe, de forma anêmica. Não é ser covarde: é ser sábio, sabendo canalizar e utilizar toda essa energia para atos mais autênticos, sensatos, elevados, dignos de atenção, e não fazer da própria vida o ringue de um clube de luta.


O Arcano XI nos ensina que podemos dizer não com firmeza, expressarmos nossas opiniões e pontos de vista sem abusar e magoar. Que podemos argumentar sem ofender. Que podemos reclamar os nossos direitos apenas mantendo o foco num ponto de vista lógico, válido, digno, equilibrado, civilizado, não dando a chance ao opositor nos desorientar e perder nossa linha de raciocínio e autoridade sobre a questão. Escapar, terminantemente, da expressão "olho por olho, dente por dente", pois isso, realmente, só vai acabar numa enorme população de cegos e desdentados.
A FORÇA nos aconselha a não sermos destrutivos ou autodestrutivos, mas íntegros, senhores de nós mesmos, carismáticos, sabendo manipular e direcionar nossas energias com sabedoria, de maneira razoável, corajosa, confiante, controlada porém plena, a fim de obtermos os resultados pretendidos, sempre dentro de um meritório caminho evolutivo.
O escritor alagoano Graciliano Ramos nas páginas finais do seu livro "Caetés" coloca o personagem principal fazendo essa brilhante reflexão sobre a nossa condição de "humanos civilizados" diante de qualquer adversidade:

"Não ser selvagem! Que sou eu senão um selvagem, ligeiramente polido, com uma tênue camada de verniz por fora? Quatrocentos anos de civilização, outras raças, outros costumes. E eu disse que não sabia o que se passava na alma de um caeté! Provavelmente o que se passa na minha, com algumas diferenças. Um caeté de olhos azuis, que fala português ruim, sabe escrituração mercantil, lê jornais, ouve missas. É isto, um caeté."

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Arcano XV: o lado oculto do ser


Acredito que a grande maioria das pessoas já tenham visto, em algum momento das suas vidas, o símbolo do Yang Yin, aquele círculo formado por duas "gotas", uma branca, a outra preta, cada uma trazendo em seu centro uma pequena porção da cor oposta.

Creio, também, que a maioria saiba que Yang e Yin são nomes para duas energias opostas tipo Bem & Mal, Bom & Ruim, Luz & Escuridão, Verdade & Ilusão, Forte & Frágil, etc. E é para refletir sobre opostos complementares que o Arcano XV, o DIABO, nos convida.

O DIABO é, em termos muito simples, aquele aspecto de nós mesmos que procuramos negar. É o que repudiamos em nós e nos outros. O que nos lembra que somos sujeitos a erros, a defeitos, a características desprezíveis. Alguns psicólogos chamam a isso de "sombra", a parte menos espiritualmente evoluída, menos iluminada, menos elevada da nossa personalidade.
Enquanto Deus, o Criador, representa o caminho a ser seguido, o Arcano XV é a imagem de tudo o que deveríamos evitar. Se Deus é a Verdade, e a Verdade sempre nos libertará, o DIABO é a mentira, a ilusão, tudo aquilo que nos mantém aprisionados.

Para o leitor de tarot, essa carta pode ser interpretada, como todas as demais, de "n" maneiras dentro de um jogo, mas é quase sempre reveladora de conflitos, de desacordos, de estados de espírito exaltados, de discussões acaloradas, de traições, enganos, materialismo exacerbado. O DIABO é conjunto dos 7 Pecados Capitais, dos desvios mais grotescos de comportamento social, dos abusos físicos e morais, de toda e qualquer forma de dependência, submissão ou opressão. É a falta de moral, de ética, de compaixão, de caridade. É o egoísmo personificado e toda forma de compulsão, de intolerância e preconceito. Seu habitat são as trevas da nossa própria ignorância.

Mas, voltando ao início desta postagem, à figura do YangYin, podemos perguntar: onde, então, nesse temeroso arquétipo, encontra-se aquela partícula do seu oposto, do seu contrário, do antagônico?

Fácil: na ambição controlada, aquela que nos faz abdicar de horas de diversão para estudarmos, nos especializarmos e podermos ganhar a nossa vida. Existe no sexo praticado de forma apaixonada, tranquila, satisfatória e na concordância entre os parceiros, e que faz com que a nossa espécie continue a existir. Está presente no prazer da chamada "boa mesa", do prazer na degustação de um bom vinho por exemplo, longe do vício do alcoolismo ou de comer abusivamente. Encontramos essa partícula quando estamos nos divertindo, cantando e dançando, conscientemente entregues aos prazeres dos sentidos, porém longe de transformar tudo num bacanal, num pandemônio. Aliás, Bacco e Pan foram as divindades pagãs que serviram de inspiração para a imagem do DIABO. A partícula do Bem está inclusa nessa energia considerada negativa quando nos preocupamos com nossa aparência, com nossa saúde, quando buscamos refinar nossa imagem pessoal, sem incorrermos nos exageros da mera e inútil Vaidade, essa sim, um sintoma da presença da energia do Arcano XV. Quando permitimos que nos conheçam, que saibam dos nossos talentos e habilidades, da nossa cultura, experiência e sabedoria sem nos tornarmos Arrogantes, sem termos a intenção e nem nos permitirmos humilhar nosso semelhante. Quando sabemos conduzir um debate, uma disputa, uma competição, uma concorrência, um confronto de ideias e conceitos sem nos tornarmos Irados, e saber reconhecer e apreciar as qualidades dos outros, sua capacidade, seu poder e suas posses, seus bens materiais sem nunca vivermos a sensação da Inveja. Quando economizamos para adquirir algo que nos é necessário sem nos tornarmos Avaros, resistindo à Tentação de gastarmos de forma tola, imprudente, incorrendo em dívidas e problemas decorrentes. E também encontramos essa preciosa partícula quando temos atitudes positivas, ativas, de contribuição, colaborativas, não deixamos sucumbir pela Preguiça, pela má vontade, pela falta de iniciativa.

A energia "boa" representada pela carta do DIABO é aquela que nos tira da apatia e nos impulsiona a querer fazer algo por nós e pelos demais, que nos leva a querer conquistar novos patamares, a superar nossas presumidas limitações, a viver apaixonadamente. Quando mal utilizada, nos escraviza a um verdadeiro redemoinho de mentiras, de ilusões, de atitudes equivocadas, falsas, de maus hábitos, de comportamentos execráveis, autodestrutivos, de padecimentos físicos, emocionais e morais.

E, atenção! Ao contrário do aspecto que as diversas formas de expressão artística o representam, essa figura é altamente atraente e sedutora, senão, francamente, que lhe daria atenção? Quem não fugiria das suas garras traiçoeiras se soubesse claramente, e não quisesse se deixar iludir, em que tipo de inferno estava prestes a adentrar?

Mas o que é importante entender, dentro do estudo do tarot, é que todos os Arcanos são bipolares, possuindo aspectos positivos, elogiáveis, virtuosos, e um outro lado, uma porção menos positiva, menos simpática, desejável ou agradável. Isso faz parte do próprio equilíbrio das qualidades que eles possam representar, pois afinal só sabemos o que é errado porque conhecemos, ou sabemos identificar, o que é certo. Entendemos a dor porque conhecemos a sensação de completo bem estar. O riso é o oposto complementar do choro, assim como a alegria o é da tristeza. Como disse o poeta: "Quem passou pela vida em brancas nuvens, e em plácido repouso adormeceu. Quem não sentiu o frio da desgraça, quem passou pela vida e não sofreu, não foi homem. Foi espectro de homem. Só passou pela vida, não viveu!" (Francisco Octaviano). A vida é um aprendizado no malabarismo em equilibrar forças, sentimentos, sensações opostas, buscando sempre o equilíbrio, a estabilidade.

Portanto, quando essa carta aparecer num jogo oracular, ela pode, dependendo da sua posição e das cartas próximas, estar chamando sua atenção para algum tipo de desequilíbrio, algum tipo de excesso, para tomar cuidado com algo ou, então (sempre dependendo das cartas associadas), ser ousado, destemido, impetuoso, enérgico e seguir em frente.
Pode, inclusive, estar avisando sobre coisas bem mais práticas e corriqueiras como tomar cuidado com a possibilidade de queimaduras (use filtro solar, cuidado com as panelas no fogo, não provoque incêndios com seu cigarro) e, até mesmo, de que a temperatura está subindo, fazendo com que reclamemos do calor "infernal" deste verão.