quinta-feira, 3 de abril de 2014

A RODA DA FORTUNA: o destino como uma montanha-russa



 
“Roda mundo, roda-gigante,
Roda destino, roda pião,
O mundo rodou num instante
Nas voltas do meu coração”
(RODA VIVA, Chico Buarque de Hollanda)

Impermanência é uma palavra que soa imponente, mas poderia ser traduzida como a “fragilidade do momento”. Nada é eterno, tudo tem começo e fim. Nada permanece. Tudo vive dentro de ciclos mais ou menos pré-definidos.
Uma árvore pode existir por centenas de anos. Nosso cachorro, animal-amigo de estimação, não atinge 20 anos. Uma flor, como a chamada “Dama da Noite”, apenas algumas pouquíssimas horas. Nós, seres humanos, com raríssimas e espantosas exceções, ultrapassamos nosso centenário de nascimento.
Medimos a vida em ciclos. Há um tempo para nascer, e outro para morrer. O dia e a noite se alternam em ciclos regulares. As estações do ano se fazem perceber em exuberância ou em pequenos detalhes a cada 3 meses. Utilizamos a volta que a Terra, nosso planeta, dá ao redor do Sol, para estabelecermos um calendário, dimensionarmos os dias, as semanas, meses e anos.

Dentro das nossas próprias vidas, ciclos acontecem: infância, juventude, maturidade, velhice, por exemplo. E dentro de cada um desses aspectos da nossa própria evolução, muitos outros ciclos surgem e desaparecem. Podemos dizer, filosoficamente, que aprender a viver é um ciclo contínuo, onde começamos inexperientes, adquirimos algum saber e então percebemos como estamos distantes de tudo o deveríamos conhecer. E aí então, reiniciamos mais uma etapa dessa jornada de descobertas.

A RODA DA FORTUNA, o Arcano Maior de nº 10 do tarot, nos incita a refletirmos exatamente sobre o fato que nada é ou dura para sempre. A própria Vida poderia ser representada como uma roda-gigante de um parque de diversões: ora estamos no alto, ora descendo, outras vezes embaixo, e algumas, subindo. Constantemente em movimento, nossas vidas são feitas de momentos, alguns mais felizes, outros mais soturnos, instantes de sorte, outros de perdas, momentos alegres se alternam com os de pesar, dias de muita ação são compensados com outros de recolhimento. Nada é para sempre.
“Fortuna”, neste caso, significa o destino de cada um. E destino a gente ajuda a construir. Não podemos alterar o dia em que nascemos, ou a família na qual nascemos, nosso DNA, nossa genealogia, mas podemos colaborar para que aquilo que gostaríamos fosse diferente, venha a ser da maneira que queremos. Esforçar-se para ter uma vida digna, útil e plena é louvável. 

Problemático é quando não estamos contentes com nada, quando ficamos lutando contra nós mesmos ao invés de tomarmos ações positivas, justas e significativas para o nosso bem viver. Se o que desejamos é ter muito dinheiro para gastar, é melhor começar instruindo-se e preparando-se para poder trabalhar com qualidade e economizar, ao invés de passar a vida lastimando-se da “má sorte”, nutrindo inveja e rancor por quem é rico, além de arriscar-se a querer viver de aparências, gastando o que não pode e incorrendo em sérios problemas financeiros. Se não desejamos ficar doentes, devemos nos alimentar bem e saudavelmente, praticar exercícios regularmente, evitar cigarros, bebidas e drogas, fazer um “check-up” pelo menos anualmente. Todos sabemos disso, mas quantos de nós realmente abandona a cômoda sensação que a vida sedentária induz, que abre mão da ingestão de alimentos considerados nocivos por serem gordurosos demais, ou conterem muito sal ou açúcar, ou mesmo por serem processados? Às vezes o destino pode ser alterado para melhor quando abrimos mão de alguns prazeres que nos parecem inocentes.

Quando reconhecemos que tudo é perecível, que tudo é impermanente, passamos a valorizar menos o que existe fora de nós e que, muitas vezes, passamos a vida toda empenhados a conquistar, a possuir. A RODA DA FORTUNA propõe que pensemos o que realmente precisamos fazer por nós mesmos para que não vivamos uma vida de altos e baixos, de subidas e descidas, de momentos de glória e outros de sofrimento, e nos convida a nos encaminharmos para o centro da RODA, onde os efeitos do seu girar são menos percebidos.

Quando a carta nº 10 dos Arcanos Menores sair numa tiragem de tarot, aceite como um convite para compreender que mudanças significativas estão ocorrendo, sobre as quais não temos total controle, mas que podemos colaborar para que seus efeitos negativos (se for o caso) sejam menos impactantes, ou que os positivos (tomara todos fossem!) sejam acolhidos com sabedoria e alegria.

E é bom que sempre que estivermos desarmonizados em relação a episódios que vão se sucedendo em nossa vida, que lembremos de um dito popular muito antigo, mas que revela uma sabedoria muito mais antiga ainda: “Não há bem que sempre dure e não há mal que nunca acabe”. O importante é aprendermos com o girar da RODA DA FORTUNA a termos uma vida menos focada no que é perecível e muito mais voltada ao nosso desenvolvimento interior.

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