“Roda mundo, roda-gigante,
Roda destino, roda pião,
O mundo rodou num instante
Nas voltas do meu coração”
(RODA VIVA, Chico Buarque de Hollanda)
Impermanência é uma palavra que soa imponente, mas poderia
ser traduzida como a “fragilidade do momento”. Nada é eterno, tudo tem começo e
fim. Nada permanece. Tudo vive dentro de ciclos mais ou menos pré-definidos.
Uma árvore pode existir por centenas de anos. Nosso
cachorro, animal-amigo de estimação, não atinge 20 anos. Uma flor, como a
chamada “Dama da Noite”, apenas algumas pouquíssimas horas. Nós, seres humanos,
com raríssimas e espantosas exceções, ultrapassamos nosso centenário de
nascimento.
Medimos a vida em ciclos. Há um tempo para nascer, e outro
para morrer. O dia e a noite se alternam em ciclos regulares. As estações do
ano se fazem perceber em exuberância ou em pequenos detalhes a cada 3 meses.
Utilizamos a volta que a Terra, nosso planeta, dá ao redor do Sol, para
estabelecermos um calendário, dimensionarmos os dias, as semanas, meses e anos.
Dentro das nossas próprias vidas, ciclos acontecem:
infância, juventude, maturidade, velhice, por exemplo. E dentro de cada um
desses aspectos da nossa própria evolução, muitos outros ciclos surgem e
desaparecem. Podemos dizer, filosoficamente, que aprender a viver é um ciclo
contínuo, onde começamos inexperientes, adquirimos algum saber e então
percebemos como estamos distantes de tudo o deveríamos conhecer. E aí então,
reiniciamos mais uma etapa dessa jornada de descobertas.
A RODA DA FORTUNA, o Arcano Maior de nº 10 do tarot, nos
incita a refletirmos exatamente sobre o fato que nada é ou dura para sempre. A
própria Vida poderia ser representada como uma roda-gigante de um parque de
diversões: ora estamos no alto, ora descendo, outras vezes embaixo, e algumas,
subindo. Constantemente em movimento, nossas vidas são feitas de momentos,
alguns mais felizes, outros mais soturnos, instantes de sorte, outros de
perdas, momentos alegres se alternam com os de pesar, dias de muita ação são
compensados com outros de recolhimento. Nada é para sempre.
“Fortuna”, neste caso, significa o destino de cada um. E
destino a gente ajuda a construir. Não podemos alterar o dia em que nascemos,
ou a família na qual nascemos, nosso DNA, nossa genealogia, mas podemos
colaborar para que aquilo que gostaríamos fosse diferente, venha a ser da
maneira que queremos. Esforçar-se para ter uma vida digna, útil e plena é
louvável.
Problemático é quando não estamos contentes com nada, quando ficamos
lutando contra nós mesmos ao invés de tomarmos ações positivas, justas e
significativas para o nosso bem viver. Se o que desejamos é ter muito dinheiro
para gastar, é melhor começar instruindo-se e preparando-se para poder
trabalhar com qualidade e economizar, ao invés de passar a vida lastimando-se
da “má sorte”, nutrindo inveja e rancor por quem é rico, além de arriscar-se a
querer viver de aparências, gastando o que não pode e incorrendo em sérios
problemas financeiros. Se não desejamos ficar doentes, devemos nos alimentar
bem e saudavelmente, praticar exercícios regularmente, evitar cigarros, bebidas
e drogas, fazer um “check-up” pelo menos anualmente. Todos sabemos disso, mas
quantos de nós realmente abandona a cômoda sensação que a vida sedentária
induz, que abre mão da ingestão de alimentos considerados nocivos por serem
gordurosos demais, ou conterem muito sal ou açúcar, ou mesmo por serem
processados? Às vezes o destino pode ser alterado para melhor quando abrimos
mão de alguns prazeres que nos parecem inocentes.
Quando reconhecemos que tudo é perecível, que tudo é
impermanente, passamos a valorizar menos o que existe fora de nós e que, muitas
vezes, passamos a vida toda empenhados a conquistar, a possuir. A RODA DA
FORTUNA propõe que pensemos o que realmente precisamos fazer por nós mesmos
para que não vivamos uma vida de altos e baixos, de subidas e descidas, de
momentos de glória e outros de sofrimento, e nos convida a nos encaminharmos
para o centro da RODA, onde os efeitos do seu girar são menos percebidos.
Quando a carta nº 10 dos Arcanos Menores sair numa tiragem
de tarot, aceite como um convite para compreender que mudanças significativas
estão ocorrendo, sobre as quais não temos total controle, mas que podemos
colaborar para que seus efeitos negativos (se for o caso) sejam menos
impactantes, ou que os positivos (tomara todos fossem!) sejam acolhidos com
sabedoria e alegria.
E é bom que sempre que estivermos desarmonizados em relação
a episódios que vão se sucedendo em nossa vida, que lembremos de um dito
popular muito antigo, mas que revela uma sabedoria muito mais antiga ainda: “Não
há bem que sempre dure e não há mal que nunca acabe”. O importante é
aprendermos com o girar da RODA DA FORTUNA a termos uma vida menos focada no
que é perecível e muito mais voltada ao nosso desenvolvimento interior.
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