É muito fácil associarmos o CAVALEIRO DE ESPADAS, carta da Corte do tarot, à figura daquele aparentemente frágil ser humano que em Pequim, no dia 5 de junho de 1989, em meio aos maiores confrontos e massacres na Praça da Paz Celestial (bom nome para um campo de guerra, não é mesmo? Desculpem-me a ironia...) enfrentou desarmado de qualquer coisa a não ser da firme convicção em um ideal , e fez parar, um comboio de tanques de guerra. Seus motivos? Uma questão de ideologia. Sua personalidade? A de um combativo defensor de suas verdades pessoais. Seu caráter? A de defensor dos fracos, corrigindo as injustiças que oprimem e que possam obstruir a causa que ele acredita e lidera.
Todos nós, se não o somos, temos parentes, amigos, conhecidos, ou mesmo cruzamos diariamente com pessoas que são fiéis representantes dos muitos aspectos que essa carta simboliza. São sempre pessoas muito analíticas, fiéis às suas crenças, ideais, filosofias e princípios, frias e calculistas em sua forma de pensar, mas de temperamento esquentado, que falam o que pensam e, por isso mesmo podem ser consideradas, por vezes, imprudentes. São excelentes estrategistas, planejando a longo prazo, habilidosos na forma de conduzirem seus interesses e defenderem suas causas. Ótimos amigos, sempre ao nosso lado evitando que soframos qualquer forma de coação e procurando resolver todos os nossos problemas. Mas como inimigos, são inigualáveis: furiosos, julgadores, dominadores, maquiavélicos, verdadeiros guerreiros prontos para derrotar a quem ou ao que se interpor entre eles e suas vontades.
Em situações bastante cotidianas os encontramos entre os executivos, os administradores, os gerentes, os que trabalham no mercado de ações, os analistas econômicos, advogados, promotores, juízes, delegados, detetives, policiais, soldados, técnicos em computação e até mesmo nos editores, ombudsman e críticos de determinadas seções dos jornais e revistas, bem como nos professores de ciências ou matemática. Enfim, em todas as profissões quando a clareza mental, a capacidade de analisar seguindo regras específicas, baseando-se em padrões básicos onde tudo deve ser “o preto no branco”, intelectualmente capaz de identificar o mal e condicionar-se em destruí-lo, se faz necessário.
Evidente podemos, aqui, também mencionar aspectos menos louváveis de tão intrépido Cavaleiro: o fanatismo, a hiperatividade, o fato de, sendo cerebral demais, perder contato com a realidade e, especialmente, com as suas emoções. Em seu descontrole, pode tornar-se um carrasco, distribuindo sentenças mortais a torto e a direito, um revolucionário sem causa, crente numa utopia barata do tipo: “ Se hay gobierno, soy contra!”, na verdade comprometido com nada e completamente errático.
O imaginário popular cultua, especialmente nas religiões afro-brasileiras e, mais especialmente ainda, na cidade do Rio de Janeiro a figura heroica de São Jorge, um cavaleiro que, de acordo com a “Lenda Dourada”, em sua busca de corrigir injustiças e defender os fracos, acabou matando um dragão que aterrorizava uma província da Líbia. Como prêmio ganhou uma grande recompensa e a mão da princesa daquele lugar em casamento e, por conseguinte, metade do reino. São Jorge, fiel aos seus princípios, deu todo o dinheiro ganho para os pobres e nada mais aceitou, seguindo seu caminho em busca de novos embates com o Mal, o qual ele identifica e destrói.
Quando essa carta surge num jogo de tarot serve para avaliarmos se realmente vale o esforço a enorme energia que muitas vezes despendemos em algo que naquele momento nos parece fundamental, imprescindível e digno de todo o nosso empenho, custe o que custar. Se está bem equacionado, analisado em cada uma de suas partes, avaliadas suas consequências e métodos (não vamos “atropelar” nada ou ninguém para conseguirmos o que queremos, não é mesmo?) que pretendemos empregar. Se não estamos encarando os fatos apenas de maneira racional, calculista, abrindo mão da emoção, da intuição. Se estamos sendo pacientes, prestando atenção a tudo o que se desenrola à nossa volta, ainda que mantendo o foco em nosso objetivo, conscientes do perigo que é ignorar ou desprezar quem nos cerca.
E, se depois de todos os aspectos terem sido perfeitamente considerados e julgados, se decidirmos por seguir adiante, com força e destemor, mantendo-nos firmes no que acreditamos, devemos lembrar que a verdadeira coragem não é a força brutal dos heróis vulgares, mas a firme opção que fazemos pela virtude e razão.
E, por via das dúvidas, podemos sempre invocar alguma ajuda externa: "Valei-nos São Jorge"!
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