terça-feira, 1 de abril de 2014

5 DE OUROS: exclusão e impedimentos


A fotografia acima é a síntese dos muitos problemas enfrentados por todos os portadores de deficiências físicas: o descaso generalizado em relação às suas necessidades.

Estar impossibilitado de locomover-se com as próprias pernas e deparar-se, como na foto acima, com uma escadaria, é mais do que um obstáculo a ser enfrentado, mas a certeza que a sua situação não merece o mesmo tratamento que é dispensado aos demais cidadãos. A História está repleta de casos, em todas as épocas e locais, que traduzem a marginalização  imposta pela sociedade a alguns dos seus membros por não estarem "em acordo" com o que ela considera certo, correto, representativo. 


O cadeirante, na imagem, não tem acesso ao que pretende porque as demais pessoas, intencionalmente ou por descaso, não levaram em consideração a sua condição ao planejarem a escadaria. E, pelo tamanho da mesma, é como se ali estivesse para lembrá-lo que aqueles que não estão em concordância com os padrões estéticos, econômicos ou culturais de um determinado momento histórico, serão punidos por isso, vetando-lhes atingirem seus objetivos. 


A artista plástica Pamela Coleman Smith, ilustradora do tarot do ocultista Arthur E. Waite, criou para o 5 DE OUROS uma outra imagem, também forte, onde a idéia de ostracismo, exílio, abandono, descaso, injustiça social é evidenciada. As duas figuras que perambulam pela rua, sob uma nevasca, passando num cenário urbano onde não há uma porta sequer onde possam pedir ajuda e abrigo, foi a maneira pictórica que a artista encontrou para representar a noção de rejeição, de falta de apoio social que os dois caminhantes enfrentam. Um deles, deficiente, utilizando-se de uma muleta (simbolicamente: qualquer forma de incapacitação física) e com uma bandagem a lhe envolver a cabeça (simbolicamente: qualquer forma de comprometimento mental), com um sino pendurado ao pescoço, para, de antemão, anunciar a inconveniência da sua presença, indigna e inaceitável. A outra figura, feminina, envolve-se em panos rotos e caminha descalça pela neve, num evidente estado de miséria e privação (simbolicamente: o colapso do aspecto material, da falta de recursos e acesso aos mesmos). Ambas caminham sob uma janela, onde um grande vitral com o desenho de uma "árvore da vida" formada por cinco pentáculos, é iluminada do seu interior, como que a nos lembrar que o abrigo, a segurança, o otimismo, as possibilidades, o suporte social ou religioso encontram-se bem guardados, protegidos, cultuados, porém inacessíveis aos que não fizeram jus (em que tribunal?) em merecê-los.
 
A idéia de injustiça permeia essa carta. Enquanto isso, no dia a dia da vida real,  pessoas continuam a passar pelas calçadas ou parar em semáforos fingindo ignorar os deficientes,  mendigos e demais eng enjeitados sociais. É como se, recusando-se a ver e conscientizar-se de que há insegurança, carência, impotência, doenças, deformidades e todas as demais formas de privação, isso tudo deixasse de existir ou, pior, que as tornasse imunes aos problemas e preocupações que afligem aos nossos irmãos.

Ainda que o problema da exclusão em todos os níveis da sociedade, comum a todas as cidades independente do tamanho ou localização, deva ser algo a ser resolvido dentro da esfera governamental, é preciso que se estabeleça a responsabilidade individual, já que todo governo eleito nada mais é que a representação do caráter, do estágio evolutivo, das ideologias, crenças, valores éticos e morais, além das aspirações dos eleitores, ou seja: as soluções são encontradas e aplicadas tanto através do empenho individual quanto do trabalho coletivo.

É tempo de arregaçarmos as mangas e desempenharmos a nossa parte.

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