terça-feira, 22 de abril de 2014

A SACERDOTISA: o arquétipo da Mãe




Existem algumas cartas no tarot que desafiam uma definição simplista, algo do tipo “x representa mudança de planos, y sugere renascimento, etc”. O Arcano Maior de número 2 é exatamente uma dessas exceções.
A SACERDOTISA, ou a ALTA SACERDOTISA, ou a PAPISA, é uma das primeiras e mais significativas cartas da sequência de 22 do tarot. Os arquétipos que representa, o do feminino sagrado, da deusa, da mulher em conexão com o divino, da mãe-terra, da sábia, da feiticeira, do depositório dos segredos, da guardiã dos mistérios, todos se combinam num só e tem sua representação pictórica e simbólica na SACERDOTISA. 


Sua figura quase sempre é mostrada como uma mulher envolta em trajes que lhe escondem as formas pois, afinal, ela simboliza o feminino não-corpóreo, a idéia do feminino-gerador, do feminino-mãe. A maioria dos artistas a retratam silenciosamente sentada, com um livro aberto em seu colo, reforçando a idéia que ela é possuidora de todo o conhecimento e que só alcançamos a esse mesmo conhecimento quando a ela nos conectamos. Senta-se entre duas colunas (as mesmas do Templo de Salomão: Boaz e Joachin) como que ocultando o que há além delas. Para adentramos ao espaço sagrado do Templo, para nos dirigirmos ao Santo dos Santos precisamos da sua permissão, necessitamos estudar, aprender e conhecer os Mistérios do Sagrado. Precisamos mergulhar no grande mar que é nosso racional e irmos ao fundo, às profundezas, à morada do conhecimento ancestral, aquele que existe desde o início dos tempos.


Quando sonhamos, quando vamos ao analista, ou mesmo quando meditamos estamos fazendo esse mergulho, estamos entrando em contato com a SACERDOTISA. Sua maneira de comunicar-se é através de sonhos, de flashes de memórias, de intuições, de situações de dejà vu, de insights, de idéias que nos acometem vindas aparentemente do nada. Algumas vezes necessitamos de ajuda especializada para decifrarmos esses “recados” e temos em Freud e Jung os grandes estudiosos dessa linguagem simbólica com a qual o nosso subconsciente “dialoga” conosco.

Em nosso dia a dia reconhecemos pessoas com as características da SACERDOTISA naquelas que são misteriosas, reservadas, moderadas, discretas, responsáveis e sérias até mesmo consideradas antissociais. São as sensíveis, eruditas, extremamente teóricas, nada práticas. Às vezes melancólicas, tem dificuldade de comunicar-se, de expressarem seus sentimentos, mas são muito sábias, espiritualizadas e bastante intuitivas. Arquetipicamente representam a mãe, ou seja, a idéia que a maioria de nós faz do “papel” de mãe.

As encontramos como intérpretes dos deuses do panteão grego nas pitonisas de Delfos; a reencontramos na figura de Maria, mãe de Jesus, silenciosa em seu mister de ser mãe do filho de Deus; estão presentes em todos os tempos como ocultistas, médiuns; são bibliotecárias, arquivistas, pesquisadoras, arqueólogas, historiadoras.

Quando, numa tiragem de tarot essa carta surge poderá estar nos sugerindo usarmos da nossa intuição em nosso benefício; prestarmos atenção aos nossos sonhos, buscando decifrá-los; ouvirmos nossa “voz interior”; nos dedicarmos ao nosso desenvolvimento espiritual; guardarmos segredos que nos são confiados; nos dedicarmos aos estudos e até mesmo sermos mais modestos, mais discretos.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

4 DE OUROS: a necessidade da prática do desapego


Já ouviu crianças brincando e uma delas dizendo: "Tudo meu!"? Pois é, essa é a essência do 4 DE OUROS, uma das cartas entre os Arcanos Menores do tarot e que faz referência ao aspecto material.
A gente vivencia a energia desse arcano quando nos sentimos poderosos, imbatíveis, os donos do mundo! É quando assumimos o nosso lado Imperador em seu melhor sentido: estável, competente, seguro, estruturado. Mas também podemos estar vivendo a sua "sombra": egoísta, prepotente, fechado em si mesmo, cheio de regras e normas pessoais, inseguro e controlador.


Como em quase todas as situações da vida onde o medo de perder o controle da situação ou de ser subtraído em seus bens materiais e emocionais ocorre, pode estar acontecendo um bloqueio de energia. O apego excessivo a qualquer coisa é o grande causador dos obstáculos que impomos ao fluxo dos benefícios que estamos aptos a receber e compartir.

Ter um bom e belo carro, mas que nunca é tirado da garagem por medo de sujá-lo, sofrer algum tipo de acidente, tê-lo roubado não é precaução, mas uma forma de apego da qual, nem mesmo o dono, tira proveito. Vemos isso repetir-se de maneiras bastante corriqueiras em nosso dia a dia, por exemplo quando, mesmo podendo, não nos permitimos ir a um bom restaurante, nos vestirmos com roupas confortáveis e de qualidade, não nos prestarmos a dar atenção e tempo a um amigo ou a um projeto assistencial. E, por favor, note bem: eu escrevi acima "mesmo podendo", isto é, quando os custos desses prazeres não irão interferir ou muito menos abalar a nossa estabilidade ou segurança.



O 4 DE OUROS pode significar que estamos num momento de reavaliar a nossa relação com nossos bens materiais. Que é chegado o momento de aprendermos que dinheiro é apenas algo abstrato, uma representação das coisas que nos dão subsistência ou que proporcionam mais prazer e beleza às nossas vidas. Não é sujo, pecaminoso, vergonhoso tê-lo ou não. O que importa é a maneira como o manipulamos e o valor que nós própios lhe atribuimos. Essa é a essência desta carta.

Como sempre, o caminho do meio é a opção mais recomendada: nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Adquirí-lo merecidamente e usá-lo de maneira equilibrada, sem lampejos de prodigalidade ou de sovinice, em benefício próprio e dos outros é uma forma correta de lidar com a sua energia. Gente que tem muito medo de perder (dinheiro, tempo, status, poder, o amor e a atenção alheia, etc) também não prospera, pois não está exercitando criativamente essa energia. Também, por outro lado, aquele que acha que o Mundo vai-se acabar amanhã e que portanto dilapida patrimônios, não se doa a ninguém e a nenhuma causa, não tem ideais, está fadado a um futuro bastante inóspito, pois como diz o ditado: "dinheiro não aceita desaforo".


Quando o 4 DE OUROS sai numa tiragem, dependendo da sua posição, podeservir para nos lembrar que devemos praticar o desapego. Desapegar-se não é de forma alguma renunciar a algo que nos é importante, mas não ser escravo, não ser dependente desse algo.

Desapegar-se é reconhecer a impermanência de tudo o que vive. Nada é eterno e, ao contrário do que os faraós do Antigo Egito acreditavam, não adianta acumular pensando numa vida futura, pós-morte. Nada do que é material nos acompanhará quando este ciclo de existência se findar. 
Portanto, aproveitar e cuidar bem do que nos é materialmente aprazível é uma coisa. Ser doentiamente dependente desses mesmos bens, hipervalorizando a sua presença em nossas vidas, é outra, bem diferente.


Quando o 4 DE OUROS aparece numa leitura de tarot, o melhor conselho seria reavaliar a importância das posses, dos bens materiais em nossa vida e observar se o apego exagerado a um objeto, pessoa ou situação não seria decorrente de uma baixa-estima longamente cultivada. Devemos lembrar que o naipe de Ouros, ao qual essa carta pertence, diz respeito à matéria, ou seja, ao mundo físico, real, palpável e que para dele bem desfrutarmos não podemos nunca deixar a balança pender para um só lado. Há que se buscar a harmonia do Material com os outros 3 aspectos da nossa existência: o Racional, o Emocional e o Espiritual. 
Privilegiar um deles em detrimento dos demais é romper o equilíbrio que nos permite viver em paz, de maneira plena em comunhão com os demais seres que habitam este planeta, usufruindo do bem maior que possuímos: a própria Vida.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Usem Filtro Solar: conselhos para todos os ciclos da vida

  “Conselho (assim como a juventude) a ser provavelmente desperdiçado pelos os jovens” é o título de uma coluna publicada no dia 1º de Junho de 1997, no jornal norte-americano Chicago Tribune, pela jornalista Mary Schmich e que até hoje é um verdadeiro “hino” à consciência pessoal que cada um de nós deveria ter. 

Usando de muito bom humor e de uma metalinguagem, a autora sempre afirmou que, se algum dia fosse convidada a ser oradora ou paraninfo de uma turma de jovens estudantes, essas seriam as palavras que gostaria de dizer:

  Major05 (7)   
 “Dentro de cada indivíduo adulto esconde-se um orador de turma, um paraninfo, morrendo de vontade de se manifestar; algum tipo de “eu-sei-tudo” disposto a dar palpites na vida de jovens que preferiam estar, naquele momento, andando de patins.      Muitos de nós, aliás, nunca seremos convidados a semear nossas palavras de sabedoria em meio a um público de formandos, mas não há nenhuma razão que nos impeça de nos distrairmos escrevendo um “Guia para a Vida dos Graduandos”.
     “Eu encorajo qualquer um, acima de 26 anos, a experimentar fazer isso e agradeço a todos a gentileza de também permitirem que eu o faça. Portanto…

     Senhoras e Senhores, formandos da turma de 1997:

Usem filtro solar 

      
      Se eu pudesse dar um conselho em relação ao futuro, eu diria:
     ”Usem filtro solar”.
     O uso em longo prazo do filtro solar, foi cientificamente provado. Os demais conselhos que dou baseiam-se unicamente em minha própria experiência. 


   Major03 (7)   Eu lhe darei esse conselho:

      Desfrute do poder e da beleza da sua juventude.

      Oh, esqueça… Você só vai compreender o poder e a beleza quando já tiverem desaparecido. Mas acredite em mim. Dentro de vinte anos você olhará suas fotos e compreenderá de um jeito que você não pode compreender agora quantas possibilidades se abriram para você e o quão fabuloso você era… 
Você não é tão gordo quanto você imagina. 

   



     Swords09 (7)Não se preocupe com o futuro.
     Ou se preocupe, mas saiba que se preocupar é tão eficaz quanto tentar resolver uma equação de álgebra mascando chiclete. É quase certo que os problemas que realmente têm importância em sua vida, são aqueles que nunca passaram pela sua mente, tipo aqueles que tomam conta da sua mente às 4 horas da tarde de uma terça-feira ociosa.

     Todos os dias faça alguma coisa que te assuste.  Cante.





Cups04 (7)

     Não trate os sentimentos alheios de forma irresponsável.

     Não tolere aqueles que agem de forma irresponsável em relação aos seus sentimentos.


     Relaxe.

   



  
Wands05 (7)    Não perca tempo com inveja. Às vezes você ganha, às vezes você perde. A corrida é longa, e no final, tem que contar só com você. 

     Lembre-se dos elogios que você recebe. Esqueça dos insultos.
     (Se você conseguir fazer isso, me diga como…)

     Guarde suas cartas de amor.
     Jogue fora seus velhos extratos bancários.

     Estique-se. 




    Wands01 (7)   
        Não tenha sentimento de culpa por não saber o que você quer fazer da sua vida.
        As pessoas mais interessantes que eu conheço não tinham, aos 22 anos, nenhuma idéia do que fariam na vida. Algumas das pessoas interessantes de 40 anos que eu conheço ainda não sabem.


       Tome bastante cálcio. Seja gentil com seus joelhos.
       Você sentirá falta deles quando não funcionarem mais.




    Coins02 (7)
        Talvez você se case, talvez não. Talvez tenha filhos, talvez não.  
        Talvez você se divorcie aos 40.
        Talvez você dance uma valsinha quando fizer 75 anos de casamento.

        O que você fizer, não se orgulhe, nem se critique demais.
        Todas as suas escolhas tem 50% de chance de dar certo. Como as escolhas de todos os demais.


   


Cups03 (7)   
      Curta seu corpo da maneira que puder.
      Use-o de todas as formas que puder.
      Não tenha medo dele ou do que as outras pessoas pensam dele.
      Ele é o maior instrumento que você possuirá.
      Dance. Mesmo que o único lugar que você tenha para dançar seja sua sala de estar.
      Leia todas as indicações, mesmo que você não as siga.  Não leia revistas de beleza. Elas só vão fazer você se sentir feio.




 
   Coins10 (7)      Saiba entender seus pais.
         Você não sabe a falta que você vai sentir deles quando eles forem embora pra valer.
         Seja agradável com seus irmãos. Eles são seu melhor vínculo com o passado e aqueles que, no futuro, provavelmente nunca deixarão você na mão.
         Entenda que os amigos vão e vem, mas que há um punhado deles, preciosos, que você tem que guardar com muito carinho.
        Trabalhe duro para transpor os obstáculos geográficos e os obstáculos da vida, porque quanto mais você envelhece, tanto mais precisa das pessoas que te conheceram quando você era jovem.



        



        More em New York  pelo menos uma Swords06 (7)vez.

        Mas mude-se antes que ela te transforme em uma pessoa dura.

        More no Norte da Califórnia pelo menos uma vez.
        Mas mude-se antes de tornar-se uma pessoa muito mole.

        Viaje.




    
 
Cups07 (7)   
     Aceite algumas verdades eternas:

     Os preços vão subir,
     os políticos são mulherengos e
     você também vai envelhecer. 
      E quando você envelhecer, você fantasiará que quando você era jovem:
     os preços eram razoáveis,
     os políticos eram nobres e
     as crianças respeitavam os mais velhos.



   
Coins05 (7)   
     Respeite as pessoas mais velhas.
     Não espere apoio de ninguém.
    Talvez você tenha um fundo de garantia.
     Talvez você tenha um cônjuge rico.
     Mas você nunca sabe quando um ou outro pode desaparecer.

     Não mexa muito em seu cabelo.
     Senão, quando tiver quarenta anos, vai ficar com a aparência de oitenta e cinco.




  

      Cups06 (7) Tenha cuidado com as pessoas que lhe dão conselhos.
 
        Mas seja paciente com elas. 
        Conselho é uma forma de nostalgia.
        Dar conselho é uma forma de resgatar o passado da lata do lixo, limpá-lo, esconder as partes feias e reciclá-lo por um preço muito maior do que realmente vale.

         Mas acredite em mim, quando eu falo do filtro solar.


image
Mary Schmich, 1997

Vídeo original desenvolvido pela DB9DDB, sem legendas e com a interpretação e locução em português de Edu Lima. Música e letra: Baz Luhrmann.
 
Considero esse texto uma grande oportunidade para reflexão e é exatamente por isso que resolvi “trabalhar” um pouquinho encima dele, associando algumas passagens às cartas do Tarot.

 Evidentemente não pretendo ser esse exercício uma forma definitiva de correlações imagéticas das cartas do tarot com o texto, até mesmo porque, entre fazê-lo e postá-lo, dezenas de outras possibilidades cruzaram minha mente.
  
 Aliás, imaginar é a essência do ato interpretativo do Tarot.

sábado, 5 de abril de 2014

JUSTIÇA: Arcano 8 do Tarot



O que é que o homem sentado em frente aos seus investigadores tem a dizer ou a esconder?

Qual é a história desse personagem e por que ele se encontra nessa situação? O que querem saber dele as frias, calculistas, “científicas” figuras que o analisam em minúcias? E o que estará escrito nas folhas do processo dos que o avaliam?

O homem, pela imagem refletida nos espelhos dos microscópios, tem o rosto tenso, nervoso, de quem teme o resultado da sua avaliação. Seus julgadores, por sua vez, tem o olhar impessoal, frio, atento, investigativo, de quem considera unicamente os fatos, de forma analítica, despidos de qualquer paixão ou outro interesse pelo ser humano à sua frente. Aliás, nem mesmo nisso ele se parecem pois seus corpos estão transformados em instrumentos de pesquisa, ampliando os detalhes sob possantes conjuntos de lentes.

Encontramos semelhanças no olhar abstraído dos 3 julgadores com o da figura da JUSTIÇA do tarot. É um olhar que parece não estar concentrado no que se vê, mas ultrapassa a camada mais evidente da realidade, em busca da essência do personagem ou do fato. Pois a Justiça não deve ater-se às aparências, pois as sabemos enganosas, e sim utilizar do seu instrumental (a espada, no caso da carta do tarot, ou as lentes de aumento, no caso da imagem acima) para obter respostas que não permitam equívocos, evasivas, subentendidos, ou mesmo, desculpas.

Imparcialidade tanto no processo investigativo quanto no julgamento é o que essa espada em riste, que a mulher da carta do tarot segura, significa. Ela oferece a mesma condição de análise, o mesmo critério e extensão de julgamento, o mesmo tipo de punição em ambos os lados da lâmina. Não beneficia ou privilegia a nada ou ninguém. Não tem opinião própria, pois baseia-se em fatos, em evidências, em medidas e critérios criados pela sociedade como um todo, a cada época, para regular o convívio social.

Todos os aspectos relacionados à questão são beneficiados com a mesma imparcialidade, representada pelos pratos nivelados da balança, ou, no caso da ilustração acima, pelo número ímpar de “juízes”, todos com as mesmas características e semelhanças. Essa maneira de “ver” a todos sob a mesma ótica, beneficiando-se das mesmas condições, é traduzido pela imagem da JUSTIÇA “cega”, com os olhos vendados, indiferente às diferenças naturais dos seres humanos. Todos são iguais perante a lei, é uma afirmação que justifica a venda sobre os olhos, eliminando a complacência do olhar apaixonado e permitindo que apenas a razão pura prevaleça.

JUSTIÇA é uma virtude e um ideal, mas esses são critérios que sofres alterações constantemente, acompanhando a evolução dos seres que habitam este planeta. Se a idéia do que é justo é algo divino, as leis que a descrevem, regulam e sacramentalizam são criadas por seres em evolução e, portanto, passiveis de cometerem constrangedores enganos em seu nome.

Ainda que esse Arcano Maior possa representar assuntos relacionados com a Justiça dos homens (ações, processos, juízes, advogados, promotores, audiências, causas, pareceres, documentos, etc), ela fala diretamente ao padrão ético e moral de cada indivíduo. É sobre como analisamos, investigamos, tiramos conclusões e aplicamos julgamentos nos fatos e nas pessoas que permeiam nosso dia a dia que essa carta de nº 10 do tarot se relaciona. O quanto somos, ou não, tendenciosos, irresponsáveis, prepotentes, relapsos, venais, cruéis, capazes, justos, rigorosos, sérios, descomprometidos ou éticos ao avaliarmos as nossas ações e, naturalmente, as alheias.

Quando olhamos a imagem do homem sentado, quase acuado, ansiedade estampada no rosto e na postura, frente aos seus inquisidores, também nos leva a pensar que estamos constantemente sendo avaliados em nossa conduta e desempenho. Seja no trabalho, no âmbito familiar, pelas nossas posições políticas, filosóficas ou religiosas, pela nossa conta bancária, pelos nossos talentos ou a falta de alguns deles, onde moramos, como nos vestimos e comportamos, o que ou quem frequentamos e, até mesmo, pela nossa aparência física, há sempre algum tipo de julgamento sendo realizado.

Se a perfeita idéia de Justiça é tão somente um ideal, que possamos dele nos utilizar de forma precisa para que todos possamos viver dignamente, respeitando diferenças e, assim, nunca incorrermos no triste ato de desequilibrar os pratos da balança e, com isso, a harmonia no Universo.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

A RODA DA FORTUNA: o destino como uma montanha-russa



 
“Roda mundo, roda-gigante,
Roda destino, roda pião,
O mundo rodou num instante
Nas voltas do meu coração”
(RODA VIVA, Chico Buarque de Hollanda)

Impermanência é uma palavra que soa imponente, mas poderia ser traduzida como a “fragilidade do momento”. Nada é eterno, tudo tem começo e fim. Nada permanece. Tudo vive dentro de ciclos mais ou menos pré-definidos.
Uma árvore pode existir por centenas de anos. Nosso cachorro, animal-amigo de estimação, não atinge 20 anos. Uma flor, como a chamada “Dama da Noite”, apenas algumas pouquíssimas horas. Nós, seres humanos, com raríssimas e espantosas exceções, ultrapassamos nosso centenário de nascimento.
Medimos a vida em ciclos. Há um tempo para nascer, e outro para morrer. O dia e a noite se alternam em ciclos regulares. As estações do ano se fazem perceber em exuberância ou em pequenos detalhes a cada 3 meses. Utilizamos a volta que a Terra, nosso planeta, dá ao redor do Sol, para estabelecermos um calendário, dimensionarmos os dias, as semanas, meses e anos.

Dentro das nossas próprias vidas, ciclos acontecem: infância, juventude, maturidade, velhice, por exemplo. E dentro de cada um desses aspectos da nossa própria evolução, muitos outros ciclos surgem e desaparecem. Podemos dizer, filosoficamente, que aprender a viver é um ciclo contínuo, onde começamos inexperientes, adquirimos algum saber e então percebemos como estamos distantes de tudo o deveríamos conhecer. E aí então, reiniciamos mais uma etapa dessa jornada de descobertas.

A RODA DA FORTUNA, o Arcano Maior de nº 10 do tarot, nos incita a refletirmos exatamente sobre o fato que nada é ou dura para sempre. A própria Vida poderia ser representada como uma roda-gigante de um parque de diversões: ora estamos no alto, ora descendo, outras vezes embaixo, e algumas, subindo. Constantemente em movimento, nossas vidas são feitas de momentos, alguns mais felizes, outros mais soturnos, instantes de sorte, outros de perdas, momentos alegres se alternam com os de pesar, dias de muita ação são compensados com outros de recolhimento. Nada é para sempre.
“Fortuna”, neste caso, significa o destino de cada um. E destino a gente ajuda a construir. Não podemos alterar o dia em que nascemos, ou a família na qual nascemos, nosso DNA, nossa genealogia, mas podemos colaborar para que aquilo que gostaríamos fosse diferente, venha a ser da maneira que queremos. Esforçar-se para ter uma vida digna, útil e plena é louvável. 

Problemático é quando não estamos contentes com nada, quando ficamos lutando contra nós mesmos ao invés de tomarmos ações positivas, justas e significativas para o nosso bem viver. Se o que desejamos é ter muito dinheiro para gastar, é melhor começar instruindo-se e preparando-se para poder trabalhar com qualidade e economizar, ao invés de passar a vida lastimando-se da “má sorte”, nutrindo inveja e rancor por quem é rico, além de arriscar-se a querer viver de aparências, gastando o que não pode e incorrendo em sérios problemas financeiros. Se não desejamos ficar doentes, devemos nos alimentar bem e saudavelmente, praticar exercícios regularmente, evitar cigarros, bebidas e drogas, fazer um “check-up” pelo menos anualmente. Todos sabemos disso, mas quantos de nós realmente abandona a cômoda sensação que a vida sedentária induz, que abre mão da ingestão de alimentos considerados nocivos por serem gordurosos demais, ou conterem muito sal ou açúcar, ou mesmo por serem processados? Às vezes o destino pode ser alterado para melhor quando abrimos mão de alguns prazeres que nos parecem inocentes.

Quando reconhecemos que tudo é perecível, que tudo é impermanente, passamos a valorizar menos o que existe fora de nós e que, muitas vezes, passamos a vida toda empenhados a conquistar, a possuir. A RODA DA FORTUNA propõe que pensemos o que realmente precisamos fazer por nós mesmos para que não vivamos uma vida de altos e baixos, de subidas e descidas, de momentos de glória e outros de sofrimento, e nos convida a nos encaminharmos para o centro da RODA, onde os efeitos do seu girar são menos percebidos.

Quando a carta nº 10 dos Arcanos Menores sair numa tiragem de tarot, aceite como um convite para compreender que mudanças significativas estão ocorrendo, sobre as quais não temos total controle, mas que podemos colaborar para que seus efeitos negativos (se for o caso) sejam menos impactantes, ou que os positivos (tomara todos fossem!) sejam acolhidos com sabedoria e alegria.

E é bom que sempre que estivermos desarmonizados em relação a episódios que vão se sucedendo em nossa vida, que lembremos de um dito popular muito antigo, mas que revela uma sabedoria muito mais antiga ainda: “Não há bem que sempre dure e não há mal que nunca acabe”. O importante é aprendermos com o girar da RODA DA FORTUNA a termos uma vida menos focada no que é perecível e muito mais voltada ao nosso desenvolvimento interior.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

9 DE ESPADAS: Pânico


Poucas coisas podem ser piores do que as consequências causadas por fantasias mórbidas. Se há algo que desestabiliza por completo qualquer ser humano é a nossa própria imaginação quando, às vezes, resolve nos pregar peças. O corpo reage imediatamente com descargas seguidas de adrenalina que só fazem aumentar vertiginosamente a ansiedade, a sensação de perigo e morte eminentes. Um pavor irracional e absoluto toma conta do indivíduo, que se sente totalmente desprotegido, à mercê de algo que ele não compreende, não visualiza corretamente e que distorce a realidade. Tontura, sudorese, taquicardia, paralisia momentânea, necessidade de fugir sem saber exatamente do quê ou para onde são alguns dos sintomas mais comuns.

Quando a pessoa acometida desse mal consegue superar a vergonha de confessá-lo e procurar ajuda terapêutica adequada, o processo de cura é mais ou menos rápido, dependendo em quanto essa absoluta e injustificada sensação de insegurança está neuróticamente instalada e sedimentada no sujeito. Síndrome de Pânico costuma ser o nome popular dado a esse conjunto de sintomas motivados por uma alteração química, ou qualquer outro motivo que a ciência e os terapeutas profissionais, justifiquem o desencadear de medos, terrores, angústias totalmente injustificados.
A figura clássica da mulher sentada em sua cama, no meio da noite, com as mãos segurando a cabeça, e com 9 espadas pendendo sobre si, é uma boa ilustração para essa síndrome.

A idéia de isolamento e imobilidade para fugir, de viver às escuras, sem saber quando, onde ou porque será acometida novamente por um surto, tentado, com as mãos, impedir que o cérebro libere imagens aterrorizantes costuma ser bastante bem reproduzida pelos ilustradores das cartas dos diversos tarots existentes no mercado.

Leva algum tempo, e muita ajuda especializada (lembre-se sempre de procurar o parecer de um médico para toda e qualquer questão que envolva sua saúde física ou mental), para o indivíduo acometido por essa condição compreender que seus pensamentos, naqueles momentos de surto, não refletem a realidade e que é um episódio de breve duração, às vezes pouquíssimos minutos. Sabe também que respirar tranqüila e ritmicamente, evitar entrar em desespero tentando o que parece ser impossível, ou seja, relaxar, irá ajudar na brevidade da crise. Mas enquanto ela dura, ainda que sejam alguns intermináveis segundos, é uma experiência aterrorizante.

Mas no Tarot, quando temos escuridão na representação da carta devemos entender que além daqueles limites reina a luz. A luz que revela a verdade, que esclarece os fatos, que elucida os problemas, que elimina as assustadoras sombras e sons ouvidos à noite. O escuro da ignorância, do não saber o que fazer, do não entender o que está acontecendo limita-se exclusivamente àqueles breves momentos do surto, pois a luz existe, basta que a reencontremos.

É preciso aproveitar os momentos mais iluminados para buscar ajuda profissional adequada e, também, conscientizar-se de que nada de concreto, verdadeiro, premonitório ou espiritual existe naqueles terríveis momentos de crise. Que tudo não passa de mera fantasia mórbida e, como toda fantasia, tem data para acabar e não deve e nem pode competir com a verdade, a lógica e a razão.

Observando a imagem da carta do 9 DE ESPADAS que ilustra este comentário, encontramos nela claros sinais desse tipo de tormento mental. O medo incontrolável ao sentir, sem conseguir justificar, que algo de terrível está para acontecer. Que o planeta vai girar fora de sua órbita e estaremos vagando na infindável escuridão espacial, que a água do banho de chuveiro irá nos afogar, que acordaremos completamente desmemoriados sem saber quem somos, que o telefone irá tocar avisando que nossos filhos sofreram um terrível acidente, que sofreremos uma crise durante uma viagem de avião e que correremos até a porta, destravando-a e causando a queda do aparelho...

Soturnos delírios da imaginação. Pânico. A noite mais escura da alma.

O importante, ao receber essa carta numa tiragem de tarot, é saber que ela alerta para algo que não é real e que só existe na nossa imaginação, fruto de uma confusão mental que gera pensamentos sombrios. É preciso lembrar-se que, alternando com a noite virá a claridade e a energia do sol, apagando esses fantasmas, elucidando mistérios e favorecendo as verdadeiras razões do que se esconde entre as sombras.

terça-feira, 1 de abril de 2014

5 DE OUROS: exclusão e impedimentos


A fotografia acima é a síntese dos muitos problemas enfrentados por todos os portadores de deficiências físicas: o descaso generalizado em relação às suas necessidades.

Estar impossibilitado de locomover-se com as próprias pernas e deparar-se, como na foto acima, com uma escadaria, é mais do que um obstáculo a ser enfrentado, mas a certeza que a sua situação não merece o mesmo tratamento que é dispensado aos demais cidadãos. A História está repleta de casos, em todas as épocas e locais, que traduzem a marginalização  imposta pela sociedade a alguns dos seus membros por não estarem "em acordo" com o que ela considera certo, correto, representativo. 


O cadeirante, na imagem, não tem acesso ao que pretende porque as demais pessoas, intencionalmente ou por descaso, não levaram em consideração a sua condição ao planejarem a escadaria. E, pelo tamanho da mesma, é como se ali estivesse para lembrá-lo que aqueles que não estão em concordância com os padrões estéticos, econômicos ou culturais de um determinado momento histórico, serão punidos por isso, vetando-lhes atingirem seus objetivos. 


A artista plástica Pamela Coleman Smith, ilustradora do tarot do ocultista Arthur E. Waite, criou para o 5 DE OUROS uma outra imagem, também forte, onde a idéia de ostracismo, exílio, abandono, descaso, injustiça social é evidenciada. As duas figuras que perambulam pela rua, sob uma nevasca, passando num cenário urbano onde não há uma porta sequer onde possam pedir ajuda e abrigo, foi a maneira pictórica que a artista encontrou para representar a noção de rejeição, de falta de apoio social que os dois caminhantes enfrentam. Um deles, deficiente, utilizando-se de uma muleta (simbolicamente: qualquer forma de incapacitação física) e com uma bandagem a lhe envolver a cabeça (simbolicamente: qualquer forma de comprometimento mental), com um sino pendurado ao pescoço, para, de antemão, anunciar a inconveniência da sua presença, indigna e inaceitável. A outra figura, feminina, envolve-se em panos rotos e caminha descalça pela neve, num evidente estado de miséria e privação (simbolicamente: o colapso do aspecto material, da falta de recursos e acesso aos mesmos). Ambas caminham sob uma janela, onde um grande vitral com o desenho de uma "árvore da vida" formada por cinco pentáculos, é iluminada do seu interior, como que a nos lembrar que o abrigo, a segurança, o otimismo, as possibilidades, o suporte social ou religioso encontram-se bem guardados, protegidos, cultuados, porém inacessíveis aos que não fizeram jus (em que tribunal?) em merecê-los.
 
A idéia de injustiça permeia essa carta. Enquanto isso, no dia a dia da vida real,  pessoas continuam a passar pelas calçadas ou parar em semáforos fingindo ignorar os deficientes,  mendigos e demais eng enjeitados sociais. É como se, recusando-se a ver e conscientizar-se de que há insegurança, carência, impotência, doenças, deformidades e todas as demais formas de privação, isso tudo deixasse de existir ou, pior, que as tornasse imunes aos problemas e preocupações que afligem aos nossos irmãos.

Ainda que o problema da exclusão em todos os níveis da sociedade, comum a todas as cidades independente do tamanho ou localização, deva ser algo a ser resolvido dentro da esfera governamental, é preciso que se estabeleça a responsabilidade individual, já que todo governo eleito nada mais é que a representação do caráter, do estágio evolutivo, das ideologias, crenças, valores éticos e morais, além das aspirações dos eleitores, ou seja: as soluções são encontradas e aplicadas tanto através do empenho individual quanto do trabalho coletivo.

É tempo de arregaçarmos as mangas e desempenharmos a nossa parte.