O LOUCO, o Arcano Sem Número, é a carta do tarot que nos
remete à figura estereotipada do inocente, do incauto, daquele que ainda não
tem experiência suficiente e nem conceitos éticos e morais definidos. O LOUCO
somos todos nós quando nos defrontamos com algo novo, algo que desconhecemos,
sobre o qual não possuímos suficiente domínio para que nos sintamos seguros. É
quando nos comportamos de forma estranha, aleatória, tentando aprender aqui e
ali, brincando com a própria sorte, sem um objetivo claramente definido mas buscando entender o ambiente, as
pessoas ou situação. Estamos LOUCOS, por exemplo, quando iniciamos um novo emprego, quando
entramos num novo curso, quando nos mudamos para uma outra localidade, quando
começamos um novo relacionamento, quando terminamos a faculdade e precisamos
aprender na prática aquilo que só conhecemos teoricamente. LOUCOS são os cientistas, os filósofos, os descobridores, os artistas, os grandes educadores, todos aqueles que ousaram, e ousam, ir além do convencional, confiando em sua intuição e na proteção espiritual.
Esse Arcano é conhecido como descompromissado, irresponsável,
desocupado, desorientado, não confiável, despreparado, mas lembrando sempre que
essas qualidades negativas podem ser percebidas quando, numa leitura
tarológica, sua carta surge numa posição menos privilegiada. A seu favor
podemos dizer que existe muita energia, disposição, boa vontade, fé, alegria,
ausência de malícia, e abertura para o
novo. Viver as energias representadas pelo LOUCO é olhar o mundo como uma
criança o faz, sem preconceitos, sem censuras, mas com encantamento. É a
descoberta do que significa viver, confiando unicamente nas experiências que
vai tendo.
LOUCO é aquele que tem fé, que confia plenamente que algo o
protege e guia seus passos. A própria Fé, uma das 3 virtudes teológicas, é
muito bem representada na figura deste arquétipo que se entrega, sem
questionamento, nas mãos do seu Criador pois ele sente que assim procedendo,
nada lhe faltará. Em tempos mais antigos, aqueles que nasciam com alguma forma
de comprometimento mental, ou aqueles que desenvolviam algumas características
de insanidade eram, também, chamados de “Loucos de Deus”, pois acreditava-se
que havia uma estranha, porém espiritual, conexão entre eles e o Divino.
LOUCO podemos considerar os “bobos da Corte”, únicos capazes
de criticarem os próprios monarcas sem perderem a vida; São Francisco de Assis, ao abdicar de todos os
benefícios de uma vida de muito conforto e, inclusive, considerar como “irmãos”
os animais e os astros; Sidharta, ao deixar o palácio real onde vivia com sua
família, despindo-se de todos os símbolos de status e dedicando-se a encontrar
a Verdade; também o comportamento de Jesus, fora dos padrões de sua época deixou
marcas naqueles que registraram sua passagem terrena:
“A loucura de Deus é
mais sábia que os homens e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens”
(1Cor 1, 25). Rejeitado pela família, de modo que “nem mesmo os seus irmãos acreditavam nele” (Jo 7,5), e abandonado
por grande parte dos seus seguidores “muitos
dos seus discípulos se afastaram e não andavam mais com ele”, (Jo 6, 66). Para
as autoridades judaicas da sua época Jesus era apenas um louco, um obcecado (Jo
8, 48). Somente um louco, um samaritano endemoniado, podia, com efeito,
denunciar os chefes religiosos como filhos do diabo e assassinos (Jo 8, 48), e
desejar o fim da instituição religiosa que se acreditava fosse desejada pelo
próprio Deus.
Portanto, ao receber a carta do LOUCO numa leitura de tarot,
use-a como um convite e guia à meditação. Aproveite para rever conceitos e “verdades”
que muitas vezes aceitamos sem pensar; observe o quanto de entusiasmo,
curiosidade, boa vontade e ação está investindo naquilo que lhe é importante;
dedique algum tempo para avaliar como está sua Fé, sua confiança em si mesmo e
nas forças organizadoras do Universo (sinta-se livre para substituir “forças
organizadoras do Universo” pelo seu próprio conceito do Divino); avalie o quanto
responsável você se sente pelas suas escolhas, atitudes e, naturalmente,
consequências. E procure também ver-se como possuidor de um espírito
eternamente jovem, sempre disposto a novos inícios, sempre pronto a se
transformar, crescer e desenvolver-se em busca da própria Iluminação.
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